Tiradentes, herói da liberdade?
Hoje celebra-se a vida de Joaquim José da Silva Xavier, um dos maiores símbolos da luta nacional, grande líder da luta pela independência e liberdade…ou não.
Tiradentes, que assim como várias pessoas na época se desdobrava na necessidade do exercício de várias funções era conhecido pela habilidade em lidar com problemas dentários, mas não era exatamente dentista. Também não era exatamente um lutador pela liberdade, tampouco líder. O alferes, baixa posição no exército para um sujeito que possuía algumas jazidas de ouro, viajava pela região sudeste em seu ofício e se mostrou um interessante quadro para levar e trazer mensagens e difundir os ideais iluministas que encantavam os intelectuais brasileiros na época. Suas habilidades em comunicação também eram úteis, ainda que Tiradentes também falasse demais.
Sua morte, a única entre pouco mais de uma dezena de envolvidos, foi exemplar e ele foi a vítima justamente por ser o menos abastado entre as personagens, várias delas desembargadores republicanos. Falando demais, o próprio Joaquim não cansava de espalhar entre Rio e Minas a posição de destaque e riqueza que ocuparia depois do fim da monarquia. Que se deu, de fato, cem anos depois da sedição mineira. A Inconfidência Mineira, um dos levantes mais lembrado pela população brasileira, se não a mais, ocupou seu lugar na memória “de lutas” justamente na Proclamação da República. Não porque lutasse por liberdade geral, incluindo pessoas escravizadas, ou porque tenha de fato lutado por republicanismo – posto que o foco era mesmo Minas – mas porque os militares precisavam de um herói nacional.
Tiradentes, militar, foi escolhido pelos republicanos, militares, por, ainda que não tão massivamente, já estar presente na memória coletiva e ser um republicano. Houve centenas de outros heróis antes dele, poucos que cumpriam esses critérios como mártir, eram brancos etc. Promovia-se aí um dos grandes exercícios da ciência histórica: apagava-se pessoas para destacar alguém.
Tiradentes foi declarado patrono do exército brasileiro, e já no ano seguinte à Proclamação 21 de abril era feriado. Encomendaram imagens do patrono revolucionário, e apesar de Tiradentes durante boa parte da vida não usar barba e para a execução estar careca, até hoje o conhecemos à imagem de Cristo. Em 1964, em plena ditadura militar, o Teatro de Arena contava Tiradentes em uma peça que ajudou a reforçar na contemporaneidade a ideia do militar como símbolo revolucionário.