A luta das mulheres contra a carestia
O que faz um povo se organizar em luta? Se somos fãs dos franceses porque qualquer coisa eles queimam carros, devemos pensar no que significa um levante popular em um país europeu desenvolvido às expensas do imperialismo, e o quê são os levantes na ex-colônia, nosso caso.
Desde a monarquia são registrados levantes contra o alto custo de vida. Em 1858 uma revolta em Salvador ganhou os jornais no país, era a revolta da carne sem osso, farinha sem caroço, onde a população pobre cobrava alimento com qualidade e preços mínimos [você pode ler mais sobre isso no Calendário Insurrecional 2021].
Pouco mais de cem anos depois, iria emergir um dos maiores movimentos populares no Brasil, o Movimento do Custo de Vida. Agregando principalmente pessoas pobres, a maioria mulheres mães e donas casa, o Movimento chegou a levar às ruas de São Paulo, em plena ditadura militar, mais de vinte mil pessoas em luta pelo direito de comer e garantir o mínimo de dignidade com seus salários de fome.
A luta do povo (1980), de Renato Tapajós
A luta surge da organização através de movimentos e lideranças, mas surge principalmente da necessidade. Tanto no século XIX, quanto na ditadura, levantes populares foram levados a cabo e protagonizados por pessoas sem formação política oficial ou acadêmica, mas que sentiam na pele os efeitos da política nefasta dos de cima.
Durante os anos 70, o movimento contra a carestia de vida tornou-se, de queixas isoladas de pobreza, em movimento e consciência coletiva da identidade e potência dxs de baixo. Em muitos casos, as reclamações das donas de casa se juntaram em coro transformando-se em movimento popular que sabia muito bem as origens e soluções de seus problemas.