Manoel de Borba Gato
Manoel de Borba Gato foi um bandeirante, de uma família de bandeirantes, nascido na vila
de Santo Amaro em 1649. Durante esses primeiros séculos de ocupação portuguesa (no
território hoje conhecido como Brasil), aconteceram empreendimentos comerciais chamados
de Bandeiras. As Bandeiras eram uma série de iniciativas que buscavam escravizar mão de
obra e encontrar metais preciosos no interior. Borba Gato se tornou importante participando
delas, entre os Séculos 17 e 18, dessa forma atuando no processo de deterioração do território
iniciado na colonização, processo do qual a vida aqui nunca mais se recuperou. Encontraram,
não sem ajuda e escravos, riquezas como esmeraldas e ouro, consideradas ainda hoje mais
valiosas que o acesso à água limpa e o contato com a terra e seus frutos.
Mesmo que não tenha saído à captura de pessoas, ele não “desbravou” e “explorou” um
território vazio: aqui também morava gente, muita gente. Se as Bandeiras anteriores já
haviam escravizado e experimentado excessivamente os mais variados usos dos corpos
indígenas, a fase seguinte, onde participou Borba Gato, se aproveitou dessa exploração do
trabalho e dos saberes de povos originários da terra. Depois dele, a prática seguiu existindo,
porém perseguindo e punindo também pessoas negras que lutavam por sua liberdade.
Essa estátua representa não só uma homenagem a ele, mas a todo movimento das Bandeiras.
O uso dos Bandeirantes na memória paulista, verificada em rodovias como a que homenageia
o governador e sogro de Borba Gato, Fernão Dias – ou mesmo o palácio “dos Bandeirantes” –
acontece há muitas décadas e sempre buscou tornar o passado presente, e justificar e valorizar
as decisões políticas do estado que fundamentaram o desenvolvimento paulista passando por
cima daqueles que foram explorados. Esse monumento lembra a vida do(s) bandeirante(s),
mas também a ausência de tantas pessoas mortas e roubadas no processo de enriquecimento
de uns e construção dessa cidade. Por isso, quem se lembra de quem sofreu não aceita essa
estátua e o discurso em pé.
[esse texto faz parte de uma intervenção realizada junto ao Departamento de Patrimônio Histórico da cidade, em forma de totem trilátero com a apresentação do coletivo, apreciação crítica escrita por nós e mini biografia do bandeirante, produzida pelo DPH]